Horácio sentia uma agonia subindo-lhe pelo corpo, empurrando seu coração pela boca. Sentia aquela mão paradoxal, que já o havia acariciado por muitas vezes, causando as sensações mais exorbitantes que já sentira, mas que agora lhe causava os piores sentimentos. Não sabia se havia feito a coisa certa, ou a menos errada. Tudo que sabia é que não podia mais voltar atrás. Ele havia pensado muito no que fazer. Pensara deveras, e o tempo consumira todas as oportunidades. Horácio parou, e olhou ao seu redor. Parou.
Resposta ao tempo
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Achei bastante sofisticado o uso do estilo indireto livre. Quem, se não um horácio, descreveria suas melancólicas sensações como uma mão paradoxal que ora nos acaricia, ora nos sufoca? A corporização desse sentimento (o concreto sugerindo o abstrato) dá ao desenho lírico maior honestidade e beleza, tangenciando o pictorial (o qual pode, por que não?, ser o próximo passo).
O protagonista percebe que não pode voltar atrás. É verdade que nunca podemos, mas também é verdade que nem sempre nos damos conta disso; não por acaso, trata-se de um momento de grande tensão, daqueles que fazem o indivíduo parar e olhar para os lados, na doce e cruel ilusão de que as coisas também pararão. Por isso, creio que a gradação rítmica no desfecho foi das mais felizes. E também- acrecento – vale notar o eficiente uso das vozes verbais: o tempo consumia Horácio, e este apenas parou, olhou (neste caso, um verbo mais contemplativo que ativo) e (com marcação de ênfase) parou:
“Pensara deveras, e o tempo consumira todas as oportunidades. Horácio parou, e olhou ao seu redor. Parou.”
Texto muito bem escrito, tocante, que emana um sentimento profundo. Parabéns a este autor por traduzir de forma tão especial sua sensibilidade em palavras !
Gostei muito do texto e, como o Rodrigo, apreciei bastante a imagem da mão paradoxal. Eu não vejo a mão paradoxal simplesmente como a imagem de um conjunto de sentimentos ou sensações; acho que seja uma possibilidade de leitura; vejo-a também como a mão do autor, do escritor, do indivíduo criativo. E refiro-me à mão propriamente. Talvez esse Horácio tenha pensado e pensado e não conseguido atinar com a resposta a algumas questões. A mão paralisada, reflexo de um Horácio sem respostas. Mas essa mesma mão um dia colaborara, só que não desta vez. E assim soem ser as coisas.
Um dia acertamos, outro erramos. Assim é que aprendemos. Um paradoxo, talvez, mas necessário.
Será que viajei muito? É provável…
Obrigada pela leitura. E um grande abraço.
🙂